Novo Capítulo Comunitário

Hoje, 20.01.2021 é a inauguração do novo presidente dos Estados Unidos. Foi necessário muito estômago para lidar com os últimos quatro anos. E para a outra parte da população, muita acrobacia mental para continuar defendendo o indefensável e neste tempo, não sei quanta reflexão existiu de todos os lados.

Faz quase 14 anos que minha história nos EUA começou. E aprendi muito nestes anos. Sobre o país, sobre as pessoas, sobre a cultura... Já dividi aqui no blog o mundo de preconceitos e estereótipos que tinha contra o país e muitos deles foram estraçalhados, outros nem tanto. Neste meio tempo em que aprendia sobre o país, eu também aprendi sobre mim, sobre quem sou, sobre quem quero ser, sobre uma forma diferente de olhar para tudo ao meu redor... Eu tive bastante tempo para refletir sobre muitas coisas e continuo aprendendo. E este post é sobre parte das reflexões neste dia marcante de tantas formas diferentes para cada um que mora neste país.

Os EUA é um país excelente, com muitas qualidades mas também com muito espaço para melhorar, como qualquer lugar do mundo. Uma grande crítica que faço ao país é a falta de reflexão comunitária sobre os nossos problemas. Existe este ego inflado de que os EUA é o melhor país do mundo e que dá pouco espaço para refletir sobre o que existe melhor lá fora e que podemos implantar e melhorar por aqui. Existe um negacionismo, que beira a cegueira, sobre como algumas coisas são por aqui. E sei que não é exclusividade dos EUA. Parte do patriotismo de qualquer nacionalidade é o negacionismo.

Se você não vive escondido do mundo, viu o que ocorreu dia 6 de Janeiro por aqui: a invasão de manifestantes no Capitólio com a intenção de impedir a validação das eleições que declara Joe Biden como presidente. Comportamento estimulado e apoiado pelo presidente que hoje deixa o cargo. Um coisa recorrente que ví no dia 6 foi de “Isso não é os EUA.” E só consigo pensar, quão irreflexivo a comunidade precisa ser para achar que o que ocorreu é uma anomalia? E não importa qual a inclinação política das pessoas, esse pensamento veio de todos os lados. Trumpnismo e Trump presidente não são a causa dos problemas nos EUA, é sintoma. Sintoma de problemas históricos que continuamos a jogar para debaixo do tapete a ponto de, no coforto do nosso privilégio, esquecermos que eles existem. Trump não é O enviado do mal que causou tudo que está errado. Não, ele simplesmente foi combustível para uma chama que sempre esteve acesa. Algumas vezes a chama está fraquinha, outras está queimando tudo, como agora; mas Trump não é a chama e a saída dele da presidência não vai apagar esta chama. Aliás, não sei quanto tempo vai ser necessário para esta chama até mesmo diminuir. Biden não é o salvador da pátria, aliás, está bem longe disso, mas é um passinho na direção contrária de jogar mais combustível na chama.

Então hoje, respiro um pouco aliviada por começar um novo capítulo com um novo presidente, mas com o questionamento de quando vamos largar o patriotismo e começar a refletir sobre nossa história e como podemos construir um país melhor para todos, inclusive para o planeta?

Comments

  1. Que bom ter você e suas reflexões de volta :) Welcome back! E já chegou chegando.. concordo com tudo que você disse aí, já tivemos essa conversa aqui em casa, eu e o americano rs. Vejo MUITO do que você disse aqui na Suíça, mas com um filtro falso de humildade (que acho que nos EUA tem menos), e por isso não falam tão abertamente que é o melhor país do mundo, mas falam claramente que o jeito suíço é o jeito certo, pra tudo. Essa chama aqui está mais branda, mas até quando? Eu realmente espero que a mudança nos EUA seja um sopro em outras direções, e que reverbere pelo mundo.

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