Minha Desconstrução de Conceitos: Estereótipos de Gênero
Tem taaaanta coisa que
eu quero falar neste tema de estereótipos de gênero, que eu não tenho ideia de
quantos posts vão surgir por aqui. Vou tentar organizar de uma forma que não
fique muito confusa, mas como este é um tema com tantos assuntos que se
interligam de uma forma bem complexa, não sei quão linear eu vou conseguir
manter os os posts.
À título de esclarecimento,
o dicionário Michaelis define estereótipo como:
1 GRÁF Placa
metálica sólida para impressão, em que os caracteres estão fixos ou estáveis,
fundidos por meio de um molde de papier-mâché, gesso ou outro material;
clichê, estéreo, matriz.
2 GRÁF Arte,
método ou processo de produzir tais placas.
3 GRÁF Impressão
efetuada com chapa de estereotipia.
4 FIG Aquilo
que se amolda a um padrão fixo ou geral.
5 FIG Esse
padrão formado de ideias preconcebidas, resultado da falta de conhecimento
geral sobre determinado assunto.
6 FIG Imagem,
ideia que categoriza alguém ou algo com base apenas em falsas generalizações,
expectativas e hábitos de julgamento.
7 FIG Aquilo
que não possui originalidade; banalidade, chavão, lugar-comum.
Os itens 5 e 6 explicam
o que é o estereótipo dentro do que eu quero refletir por aqui: o estereótipo
como ideias preconcebidas e que categoriza alguém com base apenas em falsas
generalizações e expectativas.
Nosso sistema social é
todo construído com base em estereótipos: de gênero, raça, religião,
posicionamento político, nacionalidade e tantos outros itens que compõe essa
intrincada rede que forma o ser humano. É algo enraízado na nossa cultura, então
dificilmente fazemos a reflexão de que nossas ideias sobre uma pessosa, em sua
maior parte, se formam a partir destes conceitos preexitentes das expectativas
que criamos e que servem como norte para nossa análise do outro.
Sobre gênero, vou
divivir a definição da Organização das Nações Unidas: gênero se refere a
construção social das características do que é ser homem e mulher,
características como comportamento e postura. Estas características variam de uma
sociedade para outra. Em miúdos, a definição da ONU é que gênero é o conjunto
de características atribuídas ao sexo biológico, homem e mulher, à partir de uma
construção social que leva em consideração fatores históricos e culturais.
Penso eu que quando refletimos
mais sobre as definições destes dois termos, começamos a descontruir os conceitos
do que é ser homem e mulher e passamos a olhar o outro de uma forma mais
completa.
Eu cresci acreditando
nos estereótipos de gênero. Eu cresci com a ideia de que meninas têm
um compartamento específico pelo simples fato de serem meninas e eu era "meio
diferente." Eu cresci com a crença de que por já ter duas meninas, meu pai
queria um menino e me fez gostar das mesmas coisas que ele gostava e não das “coisas
de menina.” Meu pai nunca me disse que me "criou" como menino, essa
foi sempre a minha ideia para justificar meu comportamento "meio
moleque." Nunca ví meu pai ou minha mãe tratarem minhas irmãs para serem
mais "femininas" do que eu. Eu simplesmente acreditei que para eu curtir coisas
tão diferentes das coisas femininas que minhas irmãs curtiam, tinha que ter
algo diferente na criação entre cada filha.
Eu já escrevi aqui no blog que era que
era meio moleque, uma tomboy. Como vocês podem ver, nem faz tanto tempo assim
que minhas reflexões sobre estereótipos de gênero se tornaram mais centrais nas
minhas pesquisas de enriquecimento pessoal. Hoje, eu sei que nunca fui meio
moleque, simplesmente porque estas diferenças de gêneros que vemos são
construções sociais e não algo inato. Ao olhar para meu passado, eu entendo que
meus pais, da forma deles, simplesmente me deram a oportunidade de me expressar
sem ter que me conformar com as expectativas socias baseada na minha genitália.
Não é que meus pais eram prafrentões e conscientes sobre gênero e não tinham
ideias sobre o que deveria ser nosso comportamento por sermos meninas, mas pelo
menos, enquanto crianças, estes divisores de meninas e meninos eram bem menos
marcantes na minha casa.
Os estereótipos de gênero nos limitam
durante toda a nossa vida e nos seguem nas coisas mais simples. Ainda grávida,
foram diversas às vezes que escutei que eu "tinha perfil de mãe de
menino." Nunca ninguém conseguiu me explicar exatamente o porquê eles me
viam como "mãe de menino." Como as mães de meninos diferem das mães
de meninas? Se a família não tende as seguir os padrões sociais relativos à um
gênero ou outro, onde exatamente está a diferença? Eu não sou mãe de menina, portanto,
minha experiência com meninas consiste na convivência com as filhas dos outros
rsrs mas minha percepção é que ao não ser quando tem interferência bem intensa
do meio, aos 3 anos de idade, não há diferença baseada em gênero, mas sim de
personalidades.
Em algumas argumentações sobre estereótipos a qual participei,
eu sempre bato na mesma tecla, o meio em que vivemos tem um papel muito forte
na forma que nos expressamos e que nos enquadramos nos gêneros. Com isso, é
muito mais difícil observar o que é da pessoa e o que é a pessoa se enquadrando
naquilo que a sociedade impôs. Até quando se refere a nós mesmo, é tão difícil
fazer esta diferenciação e para mim é bem óbvio que ela fica ainda mais difícil
de ser feita olhando para o próximo.
Eu não estou dizendo que não há diferenças
biológicas entre os sexos, gênero não é sexo biológico. O que estou dizendo é
que as diferenças que normalmente acreditamos, são diferenças construídas
socialmente e não algo que nasce com a gente. Tem um bocado de informação sobre
o tema. Pesquisas interessantes que foram desenvolvidas e com resultados que
continuam a demonstrar que a maioria das diferenças dos gêneros não são reais.
Minhas experiências me dão perspectivas em duas situações: menina que não se enquadrava perfeitamente no gênero
(como a maioria das pessoas) e hoje sou mãe de menino, preocupadíssima com o
papel destas imposições sociais no meu filho e é sobre minha experiência nestas
duas situações tão distintas que escreverei os próximos posts.
Os estereótipos de gênero são formados
dentro das expectativas da nossa cultura machista e misógina. Algo tão
enraízado na gente, que requer um bocado de desconstrução de conceitos para
olharmos as coisas de uma forma diferente. Dá trabalho, mas é fundamental, por
que esta é uma luta sem data para terminar e sem estas mudanças, continuaremos
anos luz da equidade e espero que a minha reflexão sirva para colocar um pontinho de interrogação na cabeça de mais alguém neste mundão todo.
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