Decisões

Este post vai ser comprido e também não deve ser de interesse de muita gente (principalmente se você não estiver grávida). No entanto, acho que é um assunto super relevante e quero dividir aqui. Então, "senta que lá vem história."

Nossa vida é cheia de decisões. O tempo todo. E toda decisão feita, nos leva a tantas outras possibilidades e novas decisões. Com a gravidez, algumas decisões são comumente discutidas: vou amamentar nos seios? Prefiro parto cesárea ou vaginal? Outras não são tão "mainstream," mas eu acredito ser tão importantes quanto. Por isso, quero discutir uma delas por aqui.

Quem aí já ouviu falar nas células tronco presentes no cordão umbilical e na placenta? Pois é, nosso cordão umbilical e placenta são ricos nestas células que tem sido um dos principais focos da mídia e da ciência. Aqui nos EUA, 95% das pessoas que têm filhos, jogam estas células no lixo (Paiuk). Você grávida, já pensou no que fazer com o sangue do seu cordão umbilical e placenta após o parto? Estatisticamente, poucas pensam.

De forma bem básica, células tronco são as células imaturas que se transformam em todas as outras células do nosso corpo. Com os avanços científicos, estas células passaram a ser a estrela nos tratamentos de diversas doenças como leucemia, linfoma, anemia, entre outras. Veja você, 95% das pessoas nos EUA jogam no lixo células tronco que, potencialmente, podem ser utilizadas no tratamento de doenças terríveis que assombram tantas pessoas mundo a fora. Triste né?

Aqui nos EUA, existem três possibilidades relacionadas ao que fazer com o sangue de cordão umbilical e placenta. Você pode: jogar fora, armazenar no privado para possível uso na família, ou doar para bancos público de sangue de cordão e placenta. Como decidir? Bom, como quase tudo na vida, esta é uma escolha pessoal. O que tenho a intenção de fazer aqui é mostrar os critérios que EU utilizei para a MINHA decisão.

Como comentei antes, as células tronco de cordão e placenta tem o potencial para ser utilizada no tratamento de diversas doenças. Para ser um pouco mais precisa, é conhecido que estas células podem ser utilizadas no tratamento de aproximadamente 80 doenças. Aí parece que a decisão mais óbvia é a de armazenar para uso pessoal (familiar), certo? Bom, eu não acho esta uma decisão tão óbvia. É aí que a coisa fica um pouco mais complicada e espero conseguir dividir as informações de forma clara.

Assim como todos outros tratamentos que envolvem orgãos, sangue ou medula óssea, na utilização das células de cordão e placenta também há a necessidade de compatibilidade entre doador e receptor. De forma bem generalizada e básica, existem as doações autólogas e as alogências. Autóloga é quando doador e receptor são a mesma pessoa e a alogênica é quando se utiliza as células de outra pessoa.

O grande apelo dos bancos privados é exatamente a possibilidade de você utilizar estas células tronco nos seus filhos, utilizando-se de uma doação autóloga ou a possibilidade de uma alogênica entre irmãos. Este é uma apelo válido? Com absoluta certeza. No entanto, é válido com ressalvas.

Um exemplo prático (e simplificado) das muitas excessões de manter células tronco para o uso privado. Você tem um único filho e o mesmo desenvolve leucemia quando criança. Você tomou a decisão de guardar células tronco do cordão e placenta, então existe a esperança de que o tratamento do seu filho funcione da maneira mais traquila possivel. Aí vem a bomba, as células tronco que você guardou não podem ser utilizadas porque são células advindas do seu filho e estas células muito provavelmente estão comprometidas com a mesma doença que acomente o seu pequeno. Então, você tristemente passa a correr atrás de um doador na família ou em bancos de células.

Se você guardar aa células de todos os seus filhos, existe a possibilidade de utilizar as células entre irmãos. Esta é uma opção com mais acurácia. O problema, seus filhos tem  25% de chance de serem compatíveis, ou seja, não é jogo certo de que as células que você guardou vão ser úteis na sua família.
Uma outra desvantagem, a quantidade de células tronco presentes no cordão e placenta não costumam ser suficientes para tratamento em um adulto. Por conta disso, são normalmente utilizadas para tratamentos de doenças em crianças e jovens adultos. Portanto, se algum adulto na família precisar desta células, elas muito provavelmente vão ser insuficientes além de também cruzar com o problema da compatibilidade que sem ser entre irmãos é ainda menor.

Eu sei que pode parecer que sou contra manter células para uso privado. A verdade é que não sou. Principalmente se você tem histórico na família de qualquer uma destas doenças pediátricas que estão na lista, acho sim que neste caso, pagar para guardar as células de cordão e placenta fazem muito sentido.

Os bancos privados também costumam falar sobre as possíveis doenças que um dia poderão ser curadas com as células tronco de cordão e placenta. Bom, como disse no começo, é uma questão de escolha pessoal. É impossível se prever o futuro e eu gosto de trabalhar com o mais concreto possível. Por conta disso, a ideia das possíveis doenças não entram na minha lista de critérios para chegar a minha decisão.

Acho que já deu para entender qual foi minha decisão né? Eu vou doar o sangue do meu cordão umbilical e placenta. Minhas razões em resumo: em poucos casos o sangue pode ser utilizado na própria criança que fez a doação; eu não tenho histórico das doenças em minha familia ou família do marido; e probalidade de compatibilidade entre irmãos é de 25%.

O fato mais importante para a minha decisão de doar: as células tronco do meu filho podem salvar uma vida hoje. Elas podem fazer diferença na vida de uma família que está lidando com uma doença infeliz que arranca a infância dos filhos deles, HOJE.

Lembra sobre a compatibilidade que comentei brevemente? As minorias raciais (que inclui pessoas de raças mista) são as que mais sofrem nas filas de espera de orgãos, medula e também sangue de cordão e placenta. Isto porque são os nossos receptores que determinam o que é compatível ou não e eles sofrem influência de nossa composição genética que sofre influência da nossa composição racial. Complexo né? Pois bem, não sei se muita gente sabe por aqui, mas meu marido é Japonês. Portanto, nosso filho representa uma minoria racial e os bancos precisam de mais doadores que representam esta minoria!

Grávidas e grávidos por aí, pensem no que fazer com o sangue do seu cordão e placenta. Eu sei que há milhões de outras coisas para se pensar, mas esta é uma muito importante também. Faça sua pesquisa, há muita informação na internet! Não sou especialista no assunto, mas posso compartilhar o conhecimento que tenho e tentar responder possíveis perguntas.

Eu não sei como as coisas funcionam em outros países, por isso, vale você ir atrás do que é possível fazer onde você mora.

Aqui na minha região, private banking sai em torno de $2000 com pagamento anual de $250 para manter as células no banco. Se você quer doar, você não precisa pagar nada. Existem vários lugares que você pode recorrer para fazer a doação pública. Converse com o seu obstetra ou mid-wife. Alguns hospitais tem programa de doação neles, mas mesmo os que não tem é possível doar.

No meu caso, eu vou utilizar o "Be The Match," lá você responde um questionário e após ser aprovado, eles te enviam um kit para que o centro onde você vai ter o bebê faça a coleta e depois é só você enviar o material coletado de volta. Simples né?! E ainda assim 95% das grávidas neste país jogam as células fora!

Como falei anteriormente, não quero convencer ninguém a fazer algo em específico com suas células, mas quero apenas dizer que existem possibilidades e que vale a pena conhecer e verificar se é compatível com a sua realidade.

Paiuk, Cara. "Weighing Cord Blood Donation Against Private Banks." The New York Times. The New York  Times Company, 10 Dec. 2013. Web. 14 Aug 2014.

Comments

  1. Aline!!! Esse post caiu como uma luva!! Vi o link no facebook e resolvi vir ler. Fazia tempo que eu nao vinha ler seu blog e o blog das meninas que eu sigo...
    Achei super interessante porque eh uma duvida que eu tinha (tinha porque voce me ajudou a decidir). E outras amigas minhas tb tinham. Nao sabia o que fazer, e nao tinha muito informacao sobre isso ainda. Ainda nao tinha pesquisado muito, apenas o precos e tal. Achei suas informacoes importantissimas, e como voce, prefiro poder ajudar alguem agora do que pagar pra ter algo que tem grande chance de NAO ser beneficial pro meu filho no futuro. Claro, tem chance de ser beneficial tb, mas pelos mesmos motivos que voce postou e que me fizeram pensar, hoje consegui chegar a uma conclusao, vou doar tb. Obrigada por compartilhar isso!!!!!!

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    1. Nani, fico super feliz de poder ajudar com um pouco de informação. São tantas coisas que nos cercam quando estamos grávidas, tantas decisões... Este é um assunto complexo é na maior parte do tempo somos bombardeadas com informação sobre private banking, por isso que decidi dividir aqui sobre as outras opções!! Bjsss

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  2. Acho uma pena que as pessoas joguem fora algo tão precioso como células tronco assim! Acredito que a maioria seja por desinformação, mas mesmo que elas tenham o pensamento de que 'talvez não me ajude', seria muita falta de empatia com o problema alheio... Gostei muito da sua visão! :)

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    1. Eu concordo com vc, Marina, acho que a maior parte das pessoas que descartam o fazem por falta de informação e principalmente aqui, quase não se fala em doação, é muito mais sobre manter para uso privado e nem todo mundo pode bancar, aí faz mais sentido jogar fora. Uma pena! Bjssss

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  3. Aline amiga como vc escreve bem e tbm és bem clara na forma de se explicar. Não estou grávida e nem pretendo tão cedo mas gostei muito de ler sobre esse assunto. Bjosss Fabi

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  4. Que ótimo post! Bastante esclarecedor. O que me fez mudar de ideia em relação à doação de células tronco foi o fato de não poder esperar o cordão parar de pulsar sozinho, esse sempre foi meu desejo, fazer tudo da forma mais natural possível, e que o sangue do cordão fosse para o bebê. Além disso, nosso plano era um parto domiciliar, o que tornaria as coisas um pouco mais complicadas. No final das contas meu parto foi hospitalar, com várias intervenções médicas, mas nosso pedido foi respeitado, ficamos um tempo sozinhos assim que a placenta dequitou, e o cordão só foi cortado alguns munutos depois. Não me lembro exatamente quantos minutos, mas acho que uns 10mins, não sei, lembro bem pouco dos minutos após o nascimento, rs.

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    1. Sinto muito pelas complicações, Line, mas fico feliz que tudo deu certo e o seu pequeno está forte e cheio de saúde nos seus braços e vc tbm está bem. Esta coisa de gravidez e parto pe para nos mostrar que não temos controle de nada né? Realmente, não é possível doar ou manter para privado se vc esperar até o cordão parar de pulsar. Eu quero esperar um pouco antes de fazer a clipagem do cordão, pois há várias pesquisas apontando o benefício para o bb, mas optei por fazer o delaying de 2 minutos (OMS recomenda 1-3 minutos) que assim ainda consigo fazer a doação. Bjsss

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  5. Na nimha primeira gravidez até 34 semanas meu pre natal foi feito em Londres onde eles dao as opcoes e a minha opcao era doar tambem. Quando nos mudamos pra Leeds e falei a minha decisao para um dos medicos ele disse que nessa cidade nao havia a opcao… Iria pro lixo. Mesmo pais apenas cidades diferentes. Fiquei decepcionada!

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    1. Poxa vida, Liza, que pena!! Imagino sua decepção, mas não tem jeito, cada lugar tem uma política específica :-( Bjsss

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  6. Aline
    Obrigada por este post tão esclarecedor! Sempre fiquei em dúvida sobre como funcionava o armazenamento das células tronco.
    Que Deus abençoe a sua vida e a vida daqueles que irão um dia se beneficiar da sua decisão.
    E mesmo não estando grávida, posso passar informação para pessoas que estejam nesta situação.
    Obrigada mais uma vez!

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    1. Eliana, muito obrigada e muito obrigada por dividir a informação com outras pessoas. Espero mesmo que as células do pandinha possa ajudar alguém!! Bjsss

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  7. Aline, eu amei esse post! Eu nao sabia que poderia doar o sangue do cordao umbilical e placenta para ajudar a salvar a vida de alguem. Eu ja tinha decidido nao armazenar as celulas das minhas meninas, por dois motivos, primeiro, como vc falou quem nao tem historico de doencas da familia geralmente nao tem muito com o que se preocupar, segundo, estou tendo gemeas identicas, entao elas serao 100% compativeis em caso de alguma necessidade! Muito obrigada pela ideia, vou pesquisar mais sobre o Be The Match, e ver o que o meu marido acha, para poder doarmos! Tenha uma linda semana, xoxo

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    1. Yasmim, fico feliz em poder ajudar com a informação de doação, normalmente ouvimos muito mais sobre o privado e principalmente na sua situação, não faz sentido o privado. Confere as informações no be the match sim, eu sei que existem algumas restrições quando se trata de gêmeos, mas lá deve ter todas as explicações certinhas! Uma ótima semana para vc e suas pequenas! Bjsss

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  8. muito boa esta explicacao e interessante. Obrigado por dividir esta informacao com a gente...bjs

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