Os dilemas da vida (dos outros)

O rascunho deste post começou em 2013 :-) Ou seja, quando eu ainda não tinha um filho.

Estes dias, marido e eu estávamos conversando sobre um dos pacientes dele. Foi uma conversa interessante, reflexiva e que achei muito difícil chegar em algum tipo de conclusão. Por ser algo que achei super interessante e que um dia quero voltar nela para ver como penso a respeito, resolvi dividir aqui no blog.
O paciente tem nove meses, está no hospital faz 15 dias, sem nenhuma função cerebral. Ele está conectado a uma máquina chamada ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea) que age como se fosse coração e pulmões do bebê. As chances de que este bebê saia do coma é praticamente zero.
Marido acha justo que desconectem o bebê da máquina. Na há nada que possa afirmar com 100% de certeza que este bebê não está sofrendo com este processo invasivo e com outros que a criança é submetida durante uma internação na unidade de terapia intensiva.
Eu também não acho justo o bebê ser submetido a tanta coisa, acho sim que o pequeno precisa sair deste "sofrimento," mas para os pais, quão difícil é tomar esta decisão? Quanto tempo é necessário para que estes pais internalizarem que é hora de deixar o bebê ir? Já é difícil desligar os aparelhos de um adulto. Como fazer isso com o seu bebê de 9 meses? Eu não tenho filhos, tenho apenas sobrinhos e a ideia de algo remotamente parecido acontecer com eles me desestrutura totalmente.
Por um lado, é importante o bebê sair deste estado, por outro, os pais precisam de um tempo para poder se despedir da promessa de vida que eles tinham. É egoísmo deixar o bebê assim? Meu marido acha que é, o que de certa forma eu concordo, mas é não sei se consideraria errado... Muito difícil como expectador, nem imagino como deve ser para os pais...

Comments

  1. Responder aos dilemas dos outros é sempre tão mais fácil porque a gente segue mais a razão do que a emoção.
    Eu concordo com você e o seu marido. Sou a favor da vida 100%, mas não acredito que deva-se prolongar o sofrimento de uma pessoa que não tem a chance de ter uma vida como era o caso deste bebê. Porém para a família é muito, mas muito difícil lidar com o sentimento de perda e o luto de sonhos não realizados. Não desejo esta situação pra ninguém!

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    1. Eliana, concordo plenamente! Ver a resolução dos dilemas alheio nos dá vantagem de poder ver tudo por uma perspectiva de espectador e de certa forma uma clareza que não temos nos nossos próprios dilemas. Na época que tive esta conversa com o marido, fiquei super reflexiva exatamente por isso, pq não sou a favor de prolongar a vida a qualquer custo, mas ao mesmo tempo, fiquei pensando no que deveria ser para aqueles pais em poder se convencer disso. O quanto deveria ser difícil para eles ter a paz de que a decisão foi deles em desligar os aparelhos. Eu gostaria de viver em um mundo em que ninguém precisasse passar por isso :-(

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  2. Quem é viva sempre aparece!! hehe. Saudades de vc aqui. Sobre o texto, não quero nem pensar... Deve ser uma dor terrível. O que aconteceu com o bebê?
    xx

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    1. Voltei, Paula :-) Aos poucos, mas voltei rsrsrs Os pais desligaram os aparelhos. Para ser sincera, eu não lembro os detalhes de quanto tempo depois eles desligaram o aparelho :-( Bjss

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  3. Eu nao faco ideia como reagiria numa situacao dessa, e apesar do logico e dificil, e eu nem filho tenho, imagino pra quem e pai/mae.
    Beijinhos

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    1. Monique, foi exatamente como me senti na época, nem tinha filho e não conseguia imaginar o que eles estavam passando :-( Agora que pandinha está aqui, a ideia me congela a alma. Bjsss

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  4. Uma situação terrível, não quero sequer imaginar aquilo pelo que esses pais estão a passar...

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    1. Joana, acho que é literalmente viver um pesadelo :-( O tipo de coisa que ninguém deveria passar. Bjss

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  5. Muito dificil quando são os outros que vivem uma situação dificil dessas, mas eu, "de fora", penso como seu marido.
    Recentemente uma amiga, gravida, descobriu que seu bebê tinha uma patologia grave, incompativel com a vida e não tinha o que fazer, apenas que o coração pare de bater. E isso durou muito tempo, a gravidez quase chegou às 40 semanas. Eu achei muito triste ela ter que seguir uma gravidez até o fim, sabendo desde o inicio que ela nunca teria seu filho vivo nos seus braços (ela que tentava engravidar ha anos sem sucesso). Mas a sociedade brasileira leva tudo para o lado da religião, e durante todos esses meses ela foi acreditando cada vez mais que era uma provação de Deus e que deveria aceitar.
    Dificil julgar, mas no meu caso eu preferiria não levar a gravidez adiante. :(

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    1. Milena, eu penso assim também. Hoje, com filho, minha perspectiva continua a mesma: não deixar quem eu amo sofrer. Ou como no caso da sua amiga, eu também não levaria a gravidez até o final. Do bebê de 9 meses internado, eu acho que para mim o que complicou um pouco mais é quando que neste turbilhão de emoções se consegue se tranquilizar em desligar as máquinas daquele serzinho que você consegue ver e tocar? Eita vida injusta :-(

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  6. Se o rascunho eh de 2013... Voce sabe o que aconteceu com o bebe?

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    1. Eu não lembro mais os detalhes, de quanto tempo depois de internação os pais optaram por desligar os aparelhos, mas eles desligaram sim e o pequeno não sobreviveu. Bjss

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  7. Curioso ter lido seu post justo essa semana. A mae de um amigo resolveu pela eutanasia, depois de lutar 7 anos contra o cancer... aqui na Belgica eh legalizado - inclusive pais podem optar por isso, no lugar de seus filhos.

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