Minha Desconstrução de Conceitos: Estereótipos de Gênero - Parte 4

Como nos outros posts, começo com a afirmação de que estereótipos de gênero são problemático para todos os membros da nossa sociedade, independente do sexo. Vou repetir milhões de vezes: eles nos limitam. Esta ideia de que uma pessoa precisa se portar de forma x ou y baseado em sua genitália funcionam como amarras que impedem desenvolvimento individual e consequentemente o desenvolvimento da comunidade em que vivemos.

O tempo todo escutamos sobre como não devemos nos importar com o que os outros pensam, sobre como devemos nos preocupar de como as coisas ocorrem dentro de casa e sim, são afirmações que tem o seu valor, mas como não vivemos em uma bolha, as pressões sociais nos afetam mesmo que inconscientemente e isto traz consequências individuais e para a sociedade em que vivemos.

Uma outra indicação que faço para quem quer explorar mais o tema é o documentário "The Mask You Live in" da diretora Jennifer Siebel Newson e disponível no Netflix.  O documentário foca nos efeitos negativos do machismo e estereótipos de masculinidade nos meninos. O documentário argumenta sobre o quanto estamos prejudicando nossos meninos com os estereótipos direcionados à eles, principalmente sobre como eles devem lidar ou melhor dizendo suprimir, suas emoções de sensibilidade, empatia, caridade, cuidado enquanto reafirmam comportamentos de agressividade. Vale lembrar aqui novamente que estes estereótipos de gênero são construções que tem como base o machismo e o machismo faz a masculinidade um troço muito frágil.

Dra. Caroline Heldman, cientista política e educadora que participa do documentário, falou uma coisa que faz muito sentido. Ela disse que a masculinidade não é algo com desenvolvimento orgânico, mas sim que se desenvolve de forma reativa. Masculinidade é a rejeição de tudo que é feminino (tradução livre). E não é a mais pura verdade? Desde pequeno, um dos maiores insultos direcionados a alguém que têm um pênis é “parece uma menininha/mulherzinha.”

Este tipo de postura, que coloca a masculinidade como a rejeição de certos sentimentos têm um preço alto. O documentário divide alguns números que são assustadores: 1 em cada 4 meninos sofrem bully nas escolas americanas e apenas 30% dos que são bullied avisam aos adultos sobre o que está ocorrendo com eles. Eles também dividem que suícidio é o terceiro motivo que mais mata pessoas do sexo masculino na faixa de 5 à 24 anos. Reparem na faixa etária: CINCO ANOS DE IDADE aos vinte e quatro anos. Aí fui atrás de mais informações sobre os números de suicídio.

Este é um gráfico do Center for Disease and Control  (CDC) que mostra suicídio entre os jovens dos dois sexos.


 Em uma atualização do ano de 2017, no website da Academia Americana de Pisquiatria da Criança e Adolescente, eles colocam que o suícidio é o segundo motivo que mais mata jovens nos EUA. No site do CDC, eles explicam que a morte por suicídio dos jovens é só uma parte do problema, pois mais jovens tentam suicidio e sobrevivem, ou seja, o número de jovens tentando morrer propositalmente é ainda maior do que os que de fato têm sucesso e morrem. De acordo com o CDC, no ano de 2015 (não achei mais recente mas sei que os números estão a aumentar), houveram duas vezes mais pessoas mortas por suicídio do que homicídio. E aí alguém se pergunta, qual a relação disso com o que estou escrevendo? O machismo e o estereótipos de gênero têm um papel importante nestes números.

Estamos empurrando nossos meninos para a morte e para violência com as expectativas de papéis que eles precisam desempenhar e sobre como eles devem suprimir seus sentimento. Cada vez que a sociedade coloca que um menino não pode ser sensível, que ele têm que gostar de esportes, se vestir de forma x, falar de forma x, se interessar por y e z e assim vai; quando a sociedade e a família não dão espaço para uma pessoa ser o que ela é; quando não damos espaço para ela explorar; quando ela é humilhada e ostracionada por ir contra o que se espera, a colocamos em uma situação ainda maior de vulnerabilidade e muitas vezes, a morte pode parecer a melhor solução para aquele indíviduo; em outros casos, agir de forma vingativa contra aqueles que o colocam nesta situação de vulnerabilidade parece uma resposta adequada.

Outro tipo de morte relacionado ao que estou dizendo é o feminicidio. Os mesmo estereótipos de gênero que tem como base o machismo nosso de cada dia, cria meninos que acreditam que mulheres são inferiores à eles; que eles têm o direito de controlá-las e objetificá-las e quando as mesmas não atendem suas expectativas, eles podem fazer com elas o que bem entenderem. Obviamente que esta é uma explicação ultra-simplificada do problema, mas queria dar estes dois exemplos de como os estereótipos de gênero podem matar.

A crença do comportamento baseado em genitália é algo que ocorre desde que o bebê está na barriga; as escolhas do enxoval, os brinquedos, as roupas... É normal escutarmos que meninas são mais tímidas que meninos. Outra coisa que escutamos constantemente é que meninos são mais dificeis de controlar pois eles são mais ativos fisicamente e tem personalidade mais forte, crença esta sem qualquer base científica. No livro “Parenting Beyond Pink and Blue: How to Raise Your Kids Free of Gender Stereotypes” da Christia Spears Brown, a autora comenta que esta crença da diferença de temperamento dos sexos é particularmente problemática para os meninos. Ela cita, como exemplo, a constante de que meninos não devem chorar. Isso ensina os meninos que emoções negativas precisam ser exterminadas pois este tipo de emoção são características feminina. O lance é que emoções não vão embora simplesmente porque nós precisamos sumprimí-las. Se as emoções não são elaboradas, elas ficam guardadinhas e vão encontrar um meio de sair. O sentimento de tristeza não é permitido para os meninos, mas o de raiva o é. Como os meninos vão aprender a expressar os sentimentos negativos dele? Dentro do que lhes foi permitido: com raiva. A violência é uma consequência natural quando raiva é o único sentimento que uma pessoa pode expressar.

A mídia, assim como reforça os papéis de mulheres como cuidadoras, calmas, focam na sensualização e objetificação, também reforçam os papéis dos estereótipos hiper masculino. Quantos filmes vem em sua mente de um personagem masculino que elabora seu luto através da vingança? Os personagens masculinos, no geral, são personagens que exarcebam seus sentimentos através da violênica.

Eu moro nos EUA, e não importa onde você mora no globo, você já escutou sobre o número absurdo de tiroteio em massa no país. Há diversos fatores que colaboram para que os tiroteios ocorram e os estereótipos de gênero são um destes fatores e com um papel gigante na coisa toda. Volto a repetir, quando ensinamos aqueles que nascem com um pênis que o comportamento aceitável é o comportamento agressivo, a violência com armas de fogo se tornam atrativas. Quer algo mais masculinizado do que arma de fogo? A mensagem constante para nossos meninos é que respeito está associado com violência.

Estes são dados divididos no documentário “The Mask You Live in:”
- A cada hora, mais de 3 pessoas são mortas por arma de fogo nos EUA.
- Noventa por cento dos homícidios nos EUA são perpetuados por pessoas do sexo masculino.
- Quase 50% têm menos de 25 anos de idade
- Em média, a cada duas semanas uma chacina (onde 4 ou mais pessoas são assassinadas) ocorre no país.
- Noventa e quatro porcento das chacinas são cometidas por pessoas do sexo masculino.
- A média de ocorrência de chacina no país triplicou desde 2011.


Os números nos mostram algo muito importante e assustador sobre os estreótipos de gênero, agora só basta prestarmos atenção e refletirmos sobre a mensagem que eles nos passam.

Comments

  1. Essa sua sequência de posts é de utilidade pública!

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    1. Este é um assunto que estava martelando na minha cabeça a muito tempo e com milhares de rascunhos prontos, aí finalmente decidi finalizar e escrever rsrs

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  2. Eu to acompanhando a sua "serie" no assunto mas e dificil comentar. Primeiro por que nao e algo que eu presto muita atencao, talvez o fato que nao tenho filhos contribua, mas por causa do meu sobrinho eu tenho comecado a devagarzinho ler a respeito. Umas semanas atras eu recebi uma edicao de uma revista (nao lembro se foi o times ou NY alguma coisa) falando sobre o assunto, e focava bastante nos garotos e de como eles sao os que mais sofrem. Triste e interessante ao mesmo tempo, o que acho bom e que o assunto tem ganhado mais atencao e que aos poucos a sociedade vai mudando, espero que seja pra melhor e com mais aceitacao.
    Bjs

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    1. Felizmente, eu acho que estamos finalmente incluindo os meninos neste problema de estereótipos. Tem bastante artigo saindo falando dos meninos nos útlimos dois anos. Não tem jeito né? Quando um pequenino passa a fazer parte das nossas vidas com a intensidade que um sobrinho faz, a gente começa a olhar as coisas de outra forma!

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