Possível segundo filho

Quando eu dividi que havia sofrido um aborto, tenho certeza que muita gente ficou surpresa e curiosa sobre eu estar grávida. Acredito que a surpresa foi ainda maior para quem soube que não foi uma gravidez acidental, pelo contrário, foi uma gravidez bem “suada;” já que estamos lidando com infertilidade secundária e esta foi uma gravidez que conseguimos com a nossa segunda tentativa de inseminação artificial. Imagino a surpresa, pois após ter meu pandinha, eu sempre fui bem aberta sobre não querer ter outro filho. Eu dizia que era 98% de chance de eu não ter outro filho. Essa nem sempre foi minha realidade.

Eu sempre quis ter mais de um filho. O plano sempre foram dois biológicos e um adotado. Antes de casar, marido e eu havíamos concordado com o tamanho da nossa família, mas aí fiquei grávida e tive um filho e tudo mudou.

A minha primeira gravidez foi extremamente programada e desejada. Tive sorte por poder me programar e a “natureza” cooperar. No entanto, a cooperação da natureza foi só neste período rsrs A gravidez, a partir do primeiro teste de urina positivo, já começou a me mostrar que ter filho é tudo, menos o que você programa. Eu detestei estar grávida, por milhões de motivos, agluns que eu mesma criei. Eu criei diversas expectativas sobre como seria a minha gravidez e o mundo a minha volta e a maioria foi por água abaixo. 

Como dividi aqui, com seis semanas, urrando de dor, fui para o hospital com suspeita de gravidez ectópica. Felizmente não era. Durante as 37 semanas de gestação eu tive náusea e aversão intensa à alimentos. Com 28 semanas descobrimos que nosso pequeno estava pélvico (na posição invertida o que dificulta um pouco o parto) e seguimos monitorando para ver se ele virava. No meio tempo, a náusea continuava intensa, comecei a reter fluídos que nem esponja e desenvolvi paralisia de Bell, que é paralisia facial parcial.

Essa é uma foto da minha perna quando estava com 36 semanas. Eu olho esta foto e não imagino como eu conseguia me equilibrar no meu minusculo pé.

Com 36 semanas, decidimos tentar fazer a manobra para tentar virar o pequeno para a posição certa. Durante o pré-monitoramento que se faz antes de tentar fazer a manobra de virada, os batimentos cardíacos do pequeno deram uns sustos nos médicos e meu líquido amniótico estava abaixo do que se deve ser. Procedimento foi cancelado. Passamos então à ir para o hospital dia sim e dia não para monitorar o coração do pequeno e o meu líquido amniótico. O monitoramento acabou que durou apenas um pouco mais de uma semana, já que minha bolsa estourou logo após eu completar 37 semanas e eu acabei em uma cesárea de emergência, muito longe do parto que eu imaginava ter. 

No campo emocional, teve muita coisa estressante. Devido à toda indisposição física + eu trabalhando igual uma louca + o marido trabalhando 100h por semana, nós dois quase não interagíamos e estávamos cansados o tempo todo e sem muita paciência um com o outro. Tivemos algumas indisposições intensas com minha sogra. A saúde do meu pai sempre dando novidades lá no Brasil e fora vários outros problemas familiares. 

O fim da gravidez culminou com o infarto do meu pai e minha impossibilidade de ir para o Brasil para estar com a minha família. Isso é o resumão de tudo rsrs Para vocês terem ideia, quando eu disse para uma enfermeira que trabalhava comigo que eu provavelmente não teria outro filho porque a gravidez foi foda, ela, mãe de três filhas e enfermeira obstétrica por 20 anos, comentou que era para eu ficar tranquila que pior que minha gravidez seria muito difícil ocorrer de novo, então dava para encarar ter outro filho rsrs.

Foi necessário um bocado de tempo e terapia para me ajudar a superar a primeira gravidez e puerpério. Ter filhos é uma decisão única e exclusivamente emocional. Se você racionaliza demais, nunca é o momento de ter filhos. O lance é que racionalizar com toda a carga emocional que eu estava me fez não querer outro filho por um bocado de tempo. 

Aí veio outros problemas familiares do marido, junto com eu ter elaborado meus problemas anteriores e decidi encarar ter outro filho. Uma decisão puramente emocional. A natureza, desta vez, não está colaborando como da primeira. Estamos com problemas de fertilidade e quando conseguimos engravidar eu tive o aborto espontâneo.

Eu não quero filhos para cuidar de mim na velhisse. Eu não quero filho na expectativa de que Pandinha ganhe um melhor amigo. Eu quero outro filho pelo motivo mais egoísta que move todos que decidem ter filhos: eu simplesmente quero gerar outro ser. Simples e complexo como é qualquer emoção. Se vai acontecer de novo? Não sei. Eu tenho meu limite físico e emocional. Menstruar com endometriose é muito foda e piora a cada mês. Meus ciclos são horríveis; sinto muita dor em várias partes, a enxaqueca também ataca e eu sinto muita náusea. Meu emocional fica péssimo. Enfim, não vou conseguir levar isso por muito mais tempo não. E os 35 anos estão batendo à porta e com ele, eu sei que fisiologicamente as coisas ficam ainda mais dificeis. Então é isso, talvez venha o segundinho. Talvez não venha. Estamos nos preparando da melhor forma possível para os dois cenários. E seja o que tiver que ser.

Comments

  1. Aline que barra que foi sua gravidez mas fico feliz que voce encontrou terapia e isso ta te ajudando muito, eu sei que a decisao de filhos e algo muito pessoal e ate dificil de entender as nossas proprias razoes e que seja como voces quiserem e planejarem ou nao. Mas eu desejo muita saude e equilibrio emocional pra lidar com os pepinos da vida. Eu nao ando muito boa em palavras pra confortar ninguem, mas se quiser conversar to sempre aqui =)
    Bjs e tudo de bom.

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  2. Aline, é difícil falar algo que não caia no clichê e que você não tenha ouvido, mas uma coisa eu tenho certeza nesta vida é que as coisas acontecem como e quando tem que acontecer. Vou ficar aqui na torcida por você.
    Imagino que não seja fácil, mas obrigada por compartilhar a sua experiência de gravidez, parto e o aborto espontâneo. Muita mulher sofre muito e o pior de tudo calada porque o mundo inteiro e de todas as formas possíveis são bombardeadas que estar grávida é a melhor coisa do mundo e que tudo é lindo, e rosa e maravilhoso. Acompanhei muito de perto uma amiga que sofreu para engravidar, infelizmente perdeu dois bebês e depois que teve filho teve depressão pós-parto. O pior de tudo é que ela sofreu e muito sozinha porque as pessoas principalmente no Brasil a julgavam demais por qualquer decisão que ela tomava e pelo o que sentia.
    Força e que você tenha serenidade neste momento da sua vida. Beijo

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  3. Eu estou com a enfermeira, pior do que a primeira gravidez é difícil! :)

    Que corra tudo pelo melhor Aline. Muita força!

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