Pq alguns dias são simplesmente mais difíceis que outros...

Hoje o post não é da noiva e muito menos da expatriada, é um puro desabafo do ser humano que se envolve e comove...
 
Como já mencionado no blog, sou biomédica e me especializei em Reprodução Humana Assistida (aliás, foi a profissão que me trouxe para o EUA).
 
Eu acredito que em qualquer área da saúde, os profissionais tentam racionalizar sua relação com o paciente. Não é uma questão de desumanizar a relação paciente/profissional, mas sim uma necessidade para se manter a objetividade na tomada de decisões pois acredito que, do contrário, as nossas ações ficam comprometidas e deixamos de ser útil para o paciente. Entendam que não defendo, de forma alguma, profissional grosseiro que trata paciente como número e são totalmente descomprometido com o juramento que fazem ao se formar. Acredito sim, que podemos racionalizar e continuarmos humanos com o paciente.
 
Bom, eu sempre me preocupo e gosto de conhecer individualmente cada paciente que receberá algum procedimento meu, o que só consigo por conta da política da clínica que trabalho hoje, pois isso não acontece em todos os lugares pelo qual já passei... Enfim, dentres diversos casais que são tratados na clínica, há um específico que me comoveu desde o começo. Foi empatia imediata, aliás, todos por aqui adoram eles - super conscientes, entedem nossa situação como profissional e cooperam conosco. Verdadeiros amores que claramente demonstram o quanto estão ansiosos por um filho.
 
No início de 2010 eles ficaram grávidos, mas ainda no primeiro trimestre, infelizmente, eles sofreram um aborto espontâneo. No final do ano passado, novamente recebemos a boa notícia de que eles estavam grávidos. Fechamos o ano com chave de ouro! 
 
Infelizmente, ontem nos reunimos com o casal após eles, novamente, sofrerem um aborto espontâneo. Foi uma reunião difícil, doída... Em casos como este, aconselhamos o casal a realizar uma pesquisa genética no bb, para que se determine se há alguma alteração genética que esteja atrapalhando o curso da gravidez e também determinamos qual era o sexo do bb. É muito complicado discutir os resultados com os pais que acabaram de sofrer uma perda, mas é uma reunião necessária. Com este casal, para mim, foi a reunião mais difícil que tive até hoje, e qndo os pais soltaram "perdemos o nosso menino" eu não consegui mais continuar na sala, foi impossível segurar as lágrimas... A frustração até agora é gigante, e me sinto tão limitada...
 
Ainda não sabemos qual será o proximo passo com o casal, eles estavam mto abalados para decidir qualquer coisa agora...
 
Como profissional, estou mais do que ciente das estatísticas e de todos os números que envolvem os procedimentos da Reproducção Assistida, mas algumas vezes estes números desaparecem e deixo de ser a profissional e me torno o ser humano indignado e frustrado q se comeve, se envolve e que questiona os milhares de pqs, que simplesmente são impossíveis de se responder...

Comments

  1. Acho que esse seu sentimento é muito natural, ao menos é natural para quem é genuinamente humano. Ate eu fiquei sensibilizada lendo seu post, imagine ouvir isso do casal, diretamente. Conheço um casal que tentou 4 vezes, sem sucesso, ter um filho da mesma forma. No fim, desistiram porque não podiam arcar com os custos financeiros e emocionais desse processo. É por isso que às vezes fico com tanta raiva quando vejo aqueles pais que abusam ou abandonam seus filhos (que a maioria teve a felicidade de ter naturalmente) na rua, em caixas de papelão, enquanto outros nem com o melhor tratamento do mundo conseguem realizar o sonho de se tornarem pais. Mas quem disse que a vida é justa? Boa sorte para eles na próxima tentativa! Beijo

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  2. Menina, eu sempre achei a medicina de uma forma geral, uma carreira bem complica, porque lida com saude, e acho meio dificil tratar com certos casos, como esse que voce listou no post. No seu lugar eu acho que nem conseguiria ter a tal reunião, tudo bem que profissão é profissão, mas realmente eu não tenho a mínima vocação pra ser médica.
    Beijinhos

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  3. Eli, concordo com vc, e' realmente revoltante o numero de pessoas que abandonam ou mal tratam seus filhos, enquanto outras sofrem um absurdo para que consigam gerar uma familia... E' o q vc falou, ngm nunca falou q a vida seria justa...


    Monique, eu acho q a gente vai se tornando mais "tough" com a experiencia... mas sempre tem um caso ou outro que acaba nos afetando.

    Beijos

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  4. Olá achei seu blog no da Elaine e quando vi a palavra noiva, tive que entrar, também sou noiva... Morei nos EUA durante 1 ano, como intercâmbisca foi assim que conheci meu amor...depois disto voltei pro Brasil, vou me casar em junho e morar nos USA..gostei do seu blog vou estar acompanhando seu blog, que por sinal é ótimo de se ler...bjs Boa Sorte

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  5. Aline que trabalho interessante o seu! Olha, eu te entendo perfeitamente. Ainda nao passei por uma situacao parecida, mas sei que como enfermeira terei que aprender a racionalizar pois sou muito emotiva, e me impressiono facilmente. Esse era o meu maior medo na epoca em que eu ainda era indecisa sobre ser enfermeira. Mas o que me fez finalmente perder esse medo de lidar com situacoes assim foi exatamente saber que tambem tem o outro lado da historia, o de voce poder ajudar outros pacientes. Estarei na torcida por eles. As vezes eh algo com o corpo dela quen nao "segura" a gravidez. Jah ouvi casos parecidos, e depois de um tratamento a menina segurou. Tenho uma amiga que passou por 3 abortos ateh conseguir "segurar" o bebe (4 tentativa) e o nenem dela ta com 1 ano e pouco, lindo, super saudavel!

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  6. Imagino o quanto e dificil trabalhar diretamente ligada a vida.

    O triste e ver quantas pessoas destratam criancas, enquanto outras passam por momentos tao dificeis como este.

    Uns com tantou outros com tao pouco. Muita forca!

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  7. Olá Eliane, bem vinda ao Blog!! Muito bacana saber que vc tbm está organizando seu casamento, e eu imagino o stress que deve estar sendo em organizar um casamento, se preparar para mudar de vez para outro país e ainda o relacionamento a distância!

    Nani, tenho certeza que vc irá se sair bem na enfermagem, concordo com vc, temos que focar no lado de poder ajudar o próximo, mas não tem jeito, algumas vezes vamos nos sentir envolvidas emocionalmentes mas acho que isso mostra o qnto nos preocupamos com aqueles pacientes que cuidamos.Pois é, geneticamente não havia nada de errado com o bb, e de fato em Reprodução Assistida demora um pouco para um resultado positivo, mas como a Eli (Everywhere) comentou, é um processo com um gigantesco desgaste tanto emocional qnto financeiro e por isso há mtos casais que desitem, mas espero que este casal tenha forças para continuar!

    Olá Thabata, bem vinda ao blog! Concordo com vc, tudo fica ainda mais revoltante qndo vemso tantas pessoas q têm filhos e os maltratam! Obrigada pela força!

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  8. Algumas profissões são muito mais do que carreiras...são verdadeiros sacerdócios. Às vezes a gente quer ter o poder de realizar além das nossas limitações, mas infelizmente (ou felizmente) algumas determinações ainda não nos cabem. Seja lá qual o nome que cada um dá, existe uma força maior que rege o universo e sobre a qual sabemos pouco (ou nada)...
    Prefiro pensar que esse casal já é abençoado por cair em uma clínica que valorize o lado humano e por ter alguém como você cuidado deles. O resto vem com o tempo, se tiver que vir. Às vezes só não dá certo se não chegou ao final. Às vezes Deus só está sendo um bom pai e não deixando que a gente coma sorvete antes da janta, vai saber...
    Existem mais mistérios entre o céu e a terra do que pressupõe nossa vã filosofia, mas isso não é limitação SUA. Continue fazendo sua parte com todo carinho e acreditando que o universo é perfeito demais para ter erros de percurso! ;)

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  9. Obrigada pelas palavras, Ise!!

    Bjuss

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  10. Oii, sou amiga da ise, que coincidencia achei seu blog porque eu estava pesquisando sobre reproducao, nao nao sou biomedica nao. Meu biological clock is ticking, tenho pcos e nos meus 33 anos estou pesquisando sobre minha futura gravidez (em 2 anos, se Deus quiser pq preciso terminar a faculdade). Eu moro na Irlanda, sou casada com irlandes (tb uma expat)e ja passei pelo processo de ser noivinha longe de casa, mas nao tinha blog nakela epoca. Bom, felicidades e como a Ise disse ai em cima, voce ja esta fazendo a sua parte com carinho e dedicacao e eu tenho muito orgulho de profissionais como voce, eh uma pena que na Irlanda, os profissionais nao amam muito o que fazem. Passarei por aki mais vezes. bjusss e que Deus abencoe sempre seu caminho :)

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  11. Olá Cath,
    Seja bem vinda ao blog!! Muito obrigada pelas palavras tão carinhosas!! Visitei o seu blog, e adorei a sua dinâmica, tbm deixei recadinho por lá!
    Bjusss

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